Viagem boa, no meu conceito, é aquela que te transforma, que mexe com a sua cabeça e toca a sua alma. Desse ponto de vista, só posso agradecer a oportunidade de conhecer Varanasi, a cidade mais religiosa da Índia. Fundada há cerca de 2500 anos, a região ainda é o retrato da Índia em seu estado bruto, uma cidade onde a religiosidade ecoa mais forte em todos os cantos, com seus rituais sagrados que para nós, ocidentais, muitas vezes parecem incompreensíveis.
Não tive como não vir até aqui conhecer o destino mais sagrado da Índia. Varanasi significa Porta do Céu, o local que dá acesso à vida eterna, o último e mais desejado estádio da existência para a religião hindu. No entanto, preciso advertir vocês, minhas rainhas e princesas, que é precisa estar espiritualmente preparada para pisar nesse solo. Por aqui não há nada que se pareça com os roteiros tradicionais de viagens, daqueles que percorremos monumentos maravilhosos e cartões-postais típicos. A região é um destino visceral, uma cidade para sentir, que certamente te conduzirá a uma viagem interior e fará com que você questione a miséria humana diante de tamanho esplendor de devoção e religiosidade. Do caos do trânsito (mas que achei divertido me locomover com os tuc-tuc), aos pedintes que esmolam pelas ruas, passando pelos rituais sagrados que acontecem a todo o momento por todos os cantos, só posso dizer que é impossível se sentir indiferente.
Os indianos consideram Varanasi a cidade do recomeço, pois ela nos dá a oportunidade de começar algo melhor. Os hindus acreditam na reencarnação e creem que o nosso comportamento em vida determina nosso futuro na próxima passagem. Para entender mais dessa filosofia e sentir o que é a verdadeira Índia, é imprescindível fazer um passeio de barco pelo Ganges para ver o sol nascer. É bem cedinho, quando o dia começa a despertar, que as pessoas vão fazer suas preces, tomar banho e receber as bênçãos sagradas e fazer oferendas no rio. Puro antagonismo: limpam o espírito se banhando em um rio sujo, enfim… Para os indianos as almas são purificadas por esse rio sagrado. Homens, mulheres, crianças e idosos de todas as castas vêm até aqui para tomar esse banho, fazer ioga, jogar oferendas aos deuses hindus, rezar e fazer funerais. Corpos são queimados em cerimoniais cheios de emoção. As famílias que não tem dinheiro simplesmente jogam o corpo do defunto nas águas do rio! É muito forte assistir tudo isso!
Mas a fé é o guia por aqui e ela se revela também na emoção que a gente sente ao avistar o sol nascendo sob o Ganges. Ver a grande bola de ouro ocupando o céu é indescritível! Não há igual, tenham certeza! A força, a energia desse momento, guardarei dentro de mim para sempre! Assim como a paz que senti ao visitar um templo budista da cidade. Os incensos, o silencio, os olhares de solidariedade… Tudo isso te conduz a uma viagem ao seu eu mais profundo, revelando quem verdadeiramente somos. Eu, com certeza, saio daqui ainda mais firme no meu propósito de ser a melhor versão da minha pessoa. Namastê!
Miguel Alcade
Namastê!
” Eu, com certeza, saio daqui ainda mais firme no meu propósito de ser a melhor versão da minha pessoa” – Que profundo!!! Lindo isso! Namastê!